terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O artigo de Wallace (1855) e a biogeografia


"Nos últimos anos, no entanto, uma grande luz tem sido lançada sobre o assunto pelas investigações geológicas, mostrando que o estado presente da Terra, e dos organismos que atualmente a habitam, é apenas o último estágio de uma longa e ininterrupta série de mudanças por ela sofrida; consequentemente, tentar explicar e dar conta de sua condição presente sem qualquer referência a essas mudanças (como freqüentemente tem sido feito) deve conduzir a conclusões muito imperfeitas e errôneas."

Wallace, no seu artigo de 1855 (este artigo foi escrito antes da carta enviada a Darwin que fez parte do artigo de 1858 - a referência mais acurada para a seleção natural), apoia sua argumentação para a origem das espécies primariamente nos dados geológicos e geográficos, indo de encontro a visão de que o espaço e a forma evoluem conjuntamente no tempo. As mudanças temporais ocorridas na Terra, vistas por ele como contínuas, sucessivas, graduais, e desiguais, forjaram a correspondência na mudança dos organismos.

Wallace


A linha de argumentação do seu trabalho apresenta claramente um tom distinto da produção de Darwin até aquele momento, apesar de ambos compartilharem referências, experiências e ideias. Wallace claramente flerta mais com o que entendemos hoje como biogeografia, chegando mesmo a enumerar proposições da geografia da vida que suportam a evolução orgânica.

"3. Quando um grupo está confinado a uma região e é rico em espécies, o caso quase invariável é que as espécies mais proximamente aparentadas sejam encontradas na mesma localidade ou em localidades nas imediatas adjacências; portanto, a seqüência natural das espécies por afinidade é também geográfica"

Mais a frente, após discorrer sobre o padrão ramificado da diversificação das espécies, Wallace retorna para as questões geográficas, comentando sobre o papel da dispersão e das barreiras na formação dos padrões de distribuição.

Finalmente o trabalho parte para a discussão mais aprofundada do registro fóssil para trazer dados mais elementares que sustentam a sua teoria de surgimento de espécies. Lembro novamente que a seleção natural não é mencionada neste trabalho, apenas mais tarde na sua carta de 1858 (mesmo sem citar propriamente o termo), pós datando a sua lei de introdução de novas espécies.

Wallace é visto por muitos como o pai da biogeografia, devido as suas grandiosas e importantes contribuições para esta ciência, especialmente através do seus estudos da regionalização zoogeográfica do globo e das suas notações sobre ilhas. Mas uma observação mais interessante é que a geografia da vida apresentou uma influência muito importante nas suas conclusões sobre a evolução das espécies.

-Uma versão em português do artigo pode ser lida em: http://www.scielo.br/pdf/ss/v1n4/a05v1n4.pdf
-A carta de 1858 (inglês): http://www.plantsystematics.org/reveal/pbio/darwin/dw04.html

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